Projecto TytoTagus – Dispersão de Coruja-das-torres no troço superior do Estuário do Tejo e Zonas Adjacentes

15-10-2010 19:21

João E. Rabaça e Inês Roque, LabOr – Laboratório de Ornitologia da Universidade de Évora

 

O TytoTagus é um projecto científico e de divulgação ambiental que pretende estudar a dispersão pós-natal de juvenis de Coruja-das-torres no Estuário do Rio Tejo e zonas adjacentes, uma área de particular importância para esta espécie em regressão.

 

Porquê o Projecto TytoTagus?

Estudos realizados na área da Ponta da Erva (Estuário do Tejo) sugerem a importância da zona como área de alimentação de juvenis de Coruja-das-torres Tyto alba em dispersão (Tomé 1994, Tomé e Valkama 2001). Não obstante a variação inter-anual registada nos censos, a abundância de corujas pode atingir um máximo de 5 aves/km, ou até 15 aves/km em algumas parcelas. Estes elevados valores de abundância são provavelmente únicos na Europa, e deverão estar relacionados com a composição e estrutura da paisagem, tratando-se essencialmente de terrenos agrícolas e abertos, irrigados por uma complexa rede de valas, localizada no estuário do Tejo, ao longo deste rio e de alguns dos seus afluentes.

Com efeito, a localização da área num estuário poderá justificar a afluência destas aves, funcionando o Rio Tejo e afluentes como corredores ecológicos para os juvenis em dispersão (Tomé e Valkama 2001). Esta hipótese é apoiada pela existência de uma elevada densidade de casais reprodutores a montante, ao longo das margens do Rio Sorraia, tributário que desagua no Tejo precisamente na área da Ponta da Erva (Roque e Tomé 2004). Note-se que o período de dispersão é concomitante com o aumento de densidade de corujas no Estuário do Tejo (Roque 2003, Tomé 1994).

No que se refere à Coruja-das-torres, vários autores referem a tendência dos juvenis em dispersar ao longo dos cursos de água, no sentido de obterem áreas de caça favoráveis (van der Hut et al. 1992, de Bruijn 1994), como consequência da existência de condições de micro-habitat adequadas para as presas (principalmente micromamíferos), asseguradas pela presença de vegetação ripícola (van der Hut et al. 1992).


O Projecto TytoTagus tem os seguintes objectivos gerais:

. determinar o padrão geral de dispersão das corujas no troço superior do Estuário do Tejo e zonas adjacentes;

. avaliar a importância da mortalidade provocada por atropelamento durante a dispersão pós-natal.

Porquê estudar a Coruja-das-torres?

A Coruja-das-torres é uma ave particularmente associada à presença humana, utilizando frequentemente estruturas artificiais para nidificar e áreas agrícolas para se alimentar (Bunn et al. 1982). Desta relação de proximidade advêm benefícios directos para o Homem. A espécie é, por exemplo, amplamente reconhecida como auxiliar em práticas de agricultura biológica (Brazil e Shawyer 1992, Ferreira et al. 1999). A sua posição de meso-predador na cadeia alimentar confere-lhe ainda um papel essencial no equilíbrio dos ecossistemas, enquanto saneador/regulador das populações-presa, as quais, por vezes, apresentam alguma nocividade para a agricultura (e.g. Brewer 1988, Newton 1979).


A Coruja-das-torres pode ainda assumir uma particular importância para o Homem enquanto sentinela na avaliação da exposição e dos efeitos secundários da contaminação ambiental (Sheffield 1997). No caso dos agroquímicos, em que a medição directa não é eficaz nos períodos em que não é efectuada descarga no ambiente, a utilização de bioindicadores permite avaliar os efeitos dos poluentes que persistem sobre a comunidade biótica. Têm sido realizados recentemente alguns trabalhos em ecotoxicologia que comprovam que as corujas estão entre as aves mais sensíveis ao envenenamento secundário, provocado pela bioacumulação de uma série de poluentes químicos ao longo da cadeia alimentar (e.g. Newton e Wyllie 1992, Sheffield 1997).

 

 

Por outro lado, esta relação de proximidade tem vindo a repercutir-se no decréscimo dos efectivos populacionais da espécie. Os factores de ameaça estão usualmente relacionados com a intensificação agrícola (alterações de uso do solo, uso de pesticidas, reconversão de edifícios rurais, etc.) e a crescente urbanização (expansão das zonas urbanas, das redes viárias, etc.) (e.g. Mikkola 1982).


Em Espanha, as tendências populacionais, calculadas para o período 1998-01, evidenciaram o decréscimo da população de Coruja-das-torres em 24% (SEO/BirdLife 2002). Martínez e López (1995) referem o abate ilegal como a principal causa de mortalidade da espécie, logo seguido dos atropelamentos. Na área de estudo é igualmente conhecida a elevada mortalidade por atropelamento (Marques s/data) e por abate ilegal (Roque 2003).

São desconhecidas as tendências populacionais da Coruja-das-torres em Portugal. Existem, todavia, registos pontuais que apontam para decréscimos locais, baseados em dados de inquéritos (e.g. Fernandes 1991, Roque 2003). Num trabalho realizado no Sul do País, foi quantificado um decréscimo populacional de 20% com base na análise de dois conjuntos de dados recolhidos com um intervalo de três anos (Álvaro 2002).

Considerando que nas últimas décadas a Coruja-das-torres sofreu um declínio acentuado e continuado na Europa, facto que conduziu à sua classificação como SPEC3 (Tuker e Heath 1994), o estudo detalhado dos movimentos da espécie no Estuário do Tejo assume uma particular relevância na conservação da espécie a nível nacional. Se, por um lado, os números de juvenis presentes na Ponta da Erva durante o período de dispersão sugerem uma produtividade elevada da região, nada se sabe acerca dos factores que poderão estar a influir na dispersão destas aves, bem como qual a sua proveniência e o seu destino após abandonarem o Estuário.

Os resultados do Projecto TytoTagus serão difundidos em revistas científicas e de divulgação, para além do portal Naturlink onde será possível acompanhar o desenvolvimento do Projecto.

 

Como posso participar?

No âmbito do Projecto TytoTagus, solicitamos e desde já agradecemos quaisquer informações relativas à existência de ninhos e/ou poisos da espécie em terrenos dos municípios de Alenquer, Almeirim, Alpiarça, Azambuja, Benavente, Cartaxo, Coruche, Santarém, Salvaterra de Magos e Vila Franca de Xira.


Mais informações sobre o Projecto em www.labor.uevora.pt (consultar Destaques).

Os dados sobre a localização de ninhos e/ou poisos da espécie devem ser preferencialmente enviados por e-mail para a equipa do Projecto:

João E. Rabaça (Coordenador) – jrabaca@uevora.pt

Inês Roque – iroque@uevora.pt

O Projecto TytoTagus é promovido pelo LabOr – Laboratório de Ornitologia da Universidade de Évora e conta com a participação da Strix Plus - Consultoria & Gestão Lda. Nesta fase inicial está a ser implementado como uma Acção no âmbito do projecto RIPIDURABLE - INTERREG IIIC Sud (www.ripidurable.com)

Fonte: www.naturlink.pt

 

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